Mão de vaca
Ainda criança, aprendi dois métodos de enriquecer que durante muito tempo julguei que fossem os únicos, e mesmo hoje em dia, me apanho a pensar neles com frequência.
Num dos extremos, a ilegalidade e o mau carácter, lido numa revista do Tintim. Um construtor decide não pagar ao homem que colocou o andaime 'Eu não enriqueci pagando aos outros. Mesmo quando eles merecem'.
No outro extremo, família afastada do lado paterno que se debatia com dificuldades e que um dia anunciou que tinha comprado uma casa na Aldeia. Eu arregalei os olhos de espanto e perguntei à minha mãe como é que era possivel que quem tinha tantos problemas conseguisse comprar uma casa (tentando imaginar o papel que o andaime poderia ter na vida destas pessoas). A resposta da minha mãe foi simplesmente 'Fazendo a conta ao número de carcaças'.
Porque houve um tempo em que dependendo do número de carcaças o padeiro ficava sempre com o troco porque nunca tinha moedas pequenas para devolver. E de tostão em tostão (literalmente) se amealha para uma casa na Aldeia.
Mais tarde aprendi noções de excedente e valor para o consumidor e custo de oportunidade, mas os dois episódios são muito mais marcantes para mim. 62 euros compram quantos papo-secos?
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